Pequenos inconformados: Uma breve explicação sobre a frustração infantil.

Você já se sentiu frustrado?  Uma espécie de decepção quando percebe que a realidade é diferente do que esperava? Pois é, essa experiência acontece várias vezes durante uma vida e é, sem dúvida, uma sensação desagradável seja em qual idade for.

As primeiras experiências em relação à frustração acontecem muito cedo e é na infância que se começa a lidar com ela. Quando criança, os cuidadores são os principais responsáveis por satisfazer ou não os desejos dos pequenos e é importante que eles entendam desde cedo esse movimento. Ou seja, que algumas expectativas podem ser satisfeitas, mediante o merecimento, esforço, amor, enquanto outras não.

É comum ouvir o relato dos pais dizendo que seus filhos não sabem perder em jogos e em brincadeiras, apresentando um inconformismo exagerado frente a situações corriqueiras.

Uma das possíveis influências para esse comportamento cada vez mais freqüente é o imediatismo do mundo atual ao qual estamos inseridos. Hoje temos acesso a informação, a alimentação, a vestuário, a entretenimento de forma muito rápida e fácil, isso modifica também a forma como lidamos com a frustração, geralmente com pouca tolerância, esperamos que as coisas venham prontas, do nosso jeito. As crianças crescem nesse contexto e também são influenciadas por isso. Além disso, excluindo os transtornos da personalidade, existem outros fatores que podem levar ao inconformismo excessivo frente a frustração.

A relação pais e filhos

Os pais, muitas vezes agindo bem intencionados na tentativa de querer poupar seus filhos de possíveis desapontamentos, buscam atendê-los em suas expectativas. Feito de forma demasiada pode fazer com que a criança não vivencie a frustração como algo natural. Isso significa que poderá não aprender a lidar com ela e, assim, não conseguir suportar as situações de perda.

Ensinar esse processo aos filhos significa que os pais precisam lidar primeiramente com sua própria frustração. Nem sempre é fácil ver o desapontamento em um ser tão frágil que ainda não entende muito da vida, mas essa é uma importante lição para ambos, filhos e pais. As crianças precisam entender que ganhar e perder faz parte da vida e que devemos nos esforçar para conseguir algum objetivo, porém mesmo assim podemos não conseguí-lo. É importante também os filhos sentirem que, independente da vitória ou da derrota, eles continuarão a ser amados e admirados por seus pais.

Existe uma fase, geralmente entre 6 e 7 anos, que é comum a criança tentar trapacear nos jogos. Ela quer fazer tudo a sua maneira e é importante que nesse período os pais saibam disso e mostrem que as regras precisam ser cumpridas. Quanto antes a criança entender esse processo, melhor será para a formação de um adulto mais tolerante frente as adversidades da vida.

No Consultório

Crianças muito avessas à perdas podem evitar concluir brincadeiras e jogos na tentativa de não sentir a frustração de uma possível derrota, expandindo esse comportamento para outras áreas da vida. Essa situação precisa ser vista com cuidado e a criança pode necessitar de ajuda para finalizar suas atividades, superando a ideia da frustração e a angústia decorrente dela.

No atendimento psicológico é possível perceber mais detalhadamente os tipos de comportamento que a criança apresenta. Através de jogos e brincadeiras a criança demonstra como reage em relação a adesão as regras, a capacidade de se colocar no lugar do outro e a sua reação frente as vitórias e derrotas.

No espaço do consultório os pequenos podem experienciar sentimentos diversos de alegria e decepção e o terapeuta pode ajudá-los a vivenciar os sentimentos difíceis. O objetivo é auxiliar a criança a elaborar melhor tais sentimentos, desenvolvendo recursos internos para que elas lidem com isso também fora do espaço terapêutico.

É essencial, nesse processo, o envolvimento dos pais principalmente durante as sessões, pois é na relação com os cuidadores que a criança estrutura sua personalidade. O consultório serve também para estimular esse encontro entre pais e filhos e iniciar uma nova forma dos pequenos vivenciarem e superarem suas dificuldades, desdobrando esses ricos momentos tanto para o ambiente familiar, como para a vida.

Se você ficou com alguma dúvida ou curiosidade sobre esse assunto comente ou mande um e-mail para acaminhodamudanca@gmail.com

Marcela Pimenta Pavan é Psicóloga Clínica. Orientação Junguiana. Especialista em Família e Casal pela PUC-Rio. Trabalha com questões ligadas a relacionamentos, conflitos pessoais, ansiedade, depressão, carreira, envelhecimento, entre outras. Atendimento online: www.acaminhodamudanca.com.br. Consultório: Largo do Machado – R.J. Atendimento domiciliar. Contato: marcelapimentapavan@gmail.com 

4 respostas para Pequenos inconformados: Uma breve explicação sobre a frustração infantil.

  1. Christiane disse:

    Gostei da resposta, muito clara e objetiva. Ajudou-me a repensar alguns quesitos…

  2. Olá Christiane. Obrigada. A ideia é essa mesmo, construir textos claros e que ampliem a reflexão sobre o tema. Fique sempre a vontade para comentar. Abraço. Marcela.

  3. Marcia disse:

    Boa tarde Marcela e Viviane, é com prazer que venho conhecer o trabalho de vocês através do blog. Também sou profissional da área, me formei em 2008 e meu maior orgulho profissional é clinicar, fiz acompanhamento terapêutico por 9 anos, partindo do segundo semestre, sei sua importância. Fiquei esses 4 ultimos anos me dedicando à família e filhos, retomei as atividades em fevereiro deste. Há um mês fui convidada para realizar um trabalho de parceria com uma escola infantil particular. Algo novo e pouco desconhecido, pq o projeto visa uma ação peculiar ao atendimento clínico, porém dentro de uma dinâmica escolar.
    Fui buscar amparo externo e encontrei tambem seu blog. Tenho lido todas as postagens de vocês, além de interessante, seus parecer com a visão dentro da saúde mental psicoterapeutica, tem me ajudado muito. Porque uma parte do projeto é palestrar aos pais sobre o desenvolvimento infantil e a relação familiar.
    Gostaria de saber se em minhas palestrar poderia referenciar vocês com seu trabalho, caso necessite expor uma descrição sua do blog.
    Marcia Carvalho

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